Em meu último artigo falei sobre Estilos de Aprendizagem (EAs), comentando que cada pessoa possui características particulares. Citei o modelo de Felder e Silverman, composto por quatro dimensões ligadas ao processo de aprendizagem: Processamento (alunos Ativos ou Reflexivos), Entrada (Visuais ou Verbais), Percepção (Sensoriais ou Intuitivos) e Progresso (Sequenciais ou Globais). Como mencionei no artigo, liderei um projeto com uma equipe interdisciplinar, envolvendo educadores, psicólogos, designers, fonoaudiólogos e cientistas de computação, visando à criação de recursos para o ensino on-line, considerando os diferentes EAs dos estudantes.
No trabalho desenvolvido, o foco foi desenvolver recursos de forma equilibrada, considerando as diferentes dimensões dos EAs. Assim, ao se pensar na dimensão Entrada, para alunos verbais foram desenvolvidos recursos como podcasts, que simulavam rádios on-line com entrevistas e discussões sobre os conteúdos das disciplinas; ou vídeos/animações onde as imagens envolviam prioritariamente o uso de palavras e sentenças. Por outro lado, pensando nos alunos visuais, inúmeras animações foram criadas, repletas de imagens, gráficos ou quadros ilustrativos; recursos como histórias em quadrinhos, discutindo questões ligadas às disciplinas, também foram desenvolvidos. A ideia foi criar recursos com características visuais e verbais de forma balanceada, de forma que os estudantes pudessem ter acesso a um conjunto de conteúdos contendo diferentes características de apresentação.
Do mesmo modo, considerando-se a dimensão Percepção, e pensando em alunos de perfil Intuitivo, foram desenvolvidos conteúdos em que os alunos eram instados a enfrentar desafios e descobrir inter-relações entre elementos. Apenas a título de exemplo, considerando uma temática que versava sobre Modelos Mentais, foi desenvolvido um vídeo em que dois professores utilizavam massas de modelar para criar diferentes formas geométricas. A partir da elaboração desses diferentes objetos, deixava-se aberta, para os alunos, a possibilidade de descobrir as relações e influências dos modelos mentais nas ações e percepções dos indivíduos. Por outro lado, não foi abandonada a criação de recursos para os alunos de perfil sensorial. Trabalhando na mesma temática dos Modelos Mentais, outro vídeo desenvolvido possuía uma abordagem completamente distinta. Nele, a professora discorria sobre o tema com uma abordagem muito mais explícita, apresentando fatos e exemplos concretos sobre modelos mentais e suas aplicações. Reforçando o que já foi comentado, o grande segredo da abordagem utilizada foi equilibrar os recursos com perfil intuitivo e sensorial.
No que tange às outras duas dimensões (Processamento e Progresso), o maior foco foi acompanhar a interação dos estudantes com o ambiente on-line. Alunos sequenciais e globais – dimensão Progresso – possuem comportamentos distintos em relação à ordem de acesso aos diferentes recursos disponíveis. No que diz respeito à dimensão Processamento, alunos ativos postam mais informação em fóruns e respondem mais vezes aos testes de autoavaliação, acessando diversas vezes os questionários. Além disso, gastam menos tempo olhando exemplos e muitas vezes fazem primeiro os exercícios, deixando para olhar os exemplos posteriormente. Por outro lado, os reflexivos postam menos informação e respondem menos vezes aos testes de autoavaliação, mas demoram mais tempo para respondê-los. Também passam mais tempo interagindo com os objetos de conteúdo.
Enfim, acredita-se que o professor deve ter consciência de suas potencialidades, ao fazer uso de diferentes recursos de ensino: permitindo a percepção de relações entre teoria e aplicações (estilo intuitivo); apresentando demonstrações e exemplos concretos (estilo sensorial); fazendo uso de imagens e diagramas (estilo visual) para suplementar a informação escrita/narrada (estilo verbal); propondo a realização de trabalhos experimentais (estilo sensorial) para que os alunos possam fazer inter-relações (estilo intuitivo); disponibilizando recursos visando à participação (estilo ativo) e reflexão do material apresentado (estilo reflexivo); ou ainda apresentando conceitos relacionados com o cotidiano dos alunos de forma global e/ou sequencial. Desta forma, o estudante desenvolverá formas particulares de interação com o ambiente de aprendizagem, de modo a alcançar plenamente o seu potencial de assimilação do conhecimento. Ressalta-se que alguns detalhes deste trabalho foram publicados no artigo Avaliação da utilização de recursos de ensino on-line relacionados a diferentes estilos de aprendizagem, na Revista Informática na Educação (https://seer.ufrgs.br/index.php/InfEducTeoriaPratica/article/view/63305).
Até breve!

Anderson Namen é cofundador e cientista de dados da Digital Innovation Consulting Group, empresa focada em ajudar outras empresas a habilitar o digital como um importante impulsionador de negócios em vários setores da economia. Doutor em Engenharia de Sistemas e Computação pela COPPE/UFRJ, possui experiência de mais de 30 anos, tendo liderado projetos inovadores em diferentes organizações. Seu foco se concentra primordialmente em projetos englobando ciência de dados e sistemas de suporte à decisão. Atua também como professor de graduação e programas de pós-graduação na Universidade do Estado do Rio de Janeiro e na Universidade Veiga de Almeida.
Desenvolve há mais de 10 anos projetos ligados ao meio ambiente, envolvendo a análise da biodiversidade e suas relações com o clima, além da gestão e monitoramento de fauna. Na área de gestão de resíduos sólidos, teve projeto de rastreabilidade de resíduos perigosos selecionado entre os 3 melhores projetos ligados ao meio ambiente, sendo premiado no RFID Journal Green Awards, evento patrocinado pelo mais conhecido jornal focado em tecnologia RFID no mundo. Atualmente coordena projeto de aplicação de Inteligência Artificial para gestão de resíduos orgânicos, patrocinado pela Faperj, que envolve 8 diferentes organizações públicas e privadas, entre elas Embrapa, UFF, UERJ e Universidade Veiga de Almeida.
Liderou diversos projetos na área de educação, utilizando dados do INEP/MEC para previsão de resultados relacionados ao processo ensino-aprendizagem de estudantes do ensino básico. Também atou no planejamento e elaboração de currículos para o ensino superior e na criação de sistemas de apoio à decisão focados na experiência do aluno. Ainda na área de educação, liderou equipe transdisciplinar para criação de recursos de on-line focados nos diferentes estilos de aprendizagem dos estudantes, sendo agraciado com premiação pelo desenvolvimento de melhor disciplina on-line entre 15 diferentes instituições de ensino superior na América Latina.
Atuou durante 25 anos como diretor da empresa E3A Educação e Assessoria, tendo desenvolvido projetos de consultoria para empresas como Furnas Centrais Elétricas, Fundação Getúlio Vargas e Universidade Veiga de Almeida. Anteriormente, trabalhou nas empresas Mesbla Lojas de Departamentos e IBM Brasil, sendo reconhecido nessa última com 3 prêmios de contribuição significativa ao negócio.