Pre Loader

Modelo Acadêmico Inovador – Centrado no estudante

Há muito tempo que admiro a imagem abaixo. É chamada de dualite (dualite.jpg) e foi criada por Jean-Christophe Benoist. Ela me faz refletir sobre como as pessoas podem ter visões totalmente diferentes de um determinado fato, modelo, assunto ou texto, dependendo de como o vemos. Na imagem, pode-se visualizar, um quadrado, um círculo ou um cilindro dependendo da posição do observador. Em um assunto complexo, como a análise de um modelo acadêmico no qual participam diversos atores (estudantes, professores, equipe administrativa, mantenedores etc.), as perguntas que surgem são: “todos têm a mesma visão do modelo acadêmico adotado?”, “Quais são as perspectivas e a visão de cada um desses atores nesse contexto?”. A ideia desse artigo e dos próximos é fazer a discussão de algumas características que possam fazer parte de um modelo acadêmico que seja mais próximo das perspectivas de todos esses atores e em sintonia com a atualidade, continuando a discussão iniciada no artigo: “Necessidade de um Modelo Acadêmico Inovador”.

 

Modelo acadêmico que tenha um desenvolvimento curricular centrado no estudante

O currículo centrado no aluno incentiva os alunos a descobrirem os seus próprios caminhos na educação, fazendo com que ele aprenda a aprender, desenvolvendo as suas próprias estruturas de conhecimento, em vez de simplesmente serem submetidos a uma base de conhecimento padrão e idêntica para todos os alunos. Existem diversas iniciativas para a criação de um currículo centrado no estudante em vigor no mundo. Na sua grande maioria, as instituições utilizam metodologias ativas de aprendizagem, tendo como modelo: aprendizagem baseada em projetos, salas de aula invertidas, aprendizagem baseada em pesquisas, gamificação, entre outros. Um dos problemas que as instituições enfrentam é que, geralmente, essas metodologias acabam sendo incorporadas somente em partes do curso, gerando um currículo parcialmente desalinhado com o objetivo inicial.

Para que tal fato não ocorra, é necessário que um projeto seja minuciosamente elaborado, com a participação de todos os atores envolvidos. A sugestão é que a implantação desse projeto seja feita em etapas, seguindo o método PDCA de gestão (PLAN – DO – CHECK – ACT ou ADJUST), e que esteja alinhado ao processo de transformação digital da instituição. Como o procedimento será cíclico, terminada a implantação de cada fase e colocada em prática, devem ser coletadas todas as informações geradas. A equipe de implantação analisará os resultados, submetendo-os aos atores envolvidos para que se comparem os resultados obtidos com os resultados esperados. No final o modelo poderá ser ajustado e/ou corrigido dependendo dos resultados alcançados.

Podemos citar aqui dois projetos, em níveis diferentes, que apresentam resultados espetaculares. O primeiro no Brasil, no Estado do Piauí, no ensino básico. O Programa Palavra de Criança foi implantado em 2008 e expandiu-se ano após ano nos municípios do Estado do Piauí. O projeto tem como um dos seus objetivos a alfabetização (leitura, escrita e interpretação) de crianças até os 8 anos de idade. O programa é focado nos três primeiros anos do ensino fundamental e tem como atores: os pais, as famílias, os professores e o município onde os alunos moram e estudam. Desde o início da implantação desse programa o Estado do Piauí apresenta um crescimento contínuo no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), principal indicador de qualidade do ensino básico, no Brasil.

O segundo, nos Estados Unidos nos cursos de graduação em engenharia da Olin College, uma instituição de ensino pequena e relativamente nova, fundada em 1997. Possui uma abordagem educacional centrada no aluno e é sustentada pelo aprendizado experimental. De acordo com o documento The Global state of the art in engineering education, elaborado pela escola de engenharia do MIT, em março de 2018, Olin College foi identificado como uma instituição “líder atual” e/ou “líder emergente” no ensino de engenharia em todo mundo.

Esses são apenas dois exemplos das inúmeras iniciativas e modelos já implantados por várias instituições que têm apresentado resultados extremamente relevantes em termos de aprendizado. A implantação desses modelos é custosa e trabalhosa para a instituição, porém os resultados são extremamente positivos. Olhando o segundo exemplo, o de Olin College, os resultados foram espetaculares, sem dúvida, porém, a entrada anual de novos alunos é de cerca de 80 alunos que passam por um rigoroso processo de seleção. Um dos questionamentos feitos no relatório da escola de engenharia do MIT, citado anteriormente, é se esse modelo seria replicável para uma entrada maior de estudantes e, complementando essa pergunta, se seria um modelo aplicável para todos os cursos e não somente para os cursos de engenharia? A resposta para as duas perguntas é simples e objetiva: Sim! Para tal, a instituição precisa de:

  1. Ter começado o seu processo de transformação digital;
  2. Planejar meticulosamente todas as etapas de implantação do projeto, envolvendo todos os atores da instituição e não somente a equipe acadêmica;
  3. Ter o Reitor da instituição como principal patrocinador do projeto, apoiado por todo os diretores das áreas acadêmica e das áreas administrativas;
  4. Ter os recursos financeiros, tecnológicos e de infraestrutura garantidos para cada etapa de implantação do projeto;
  5. Analisar os resultados de cada etapa de implantação e ajustar o projeto, caso seja necessário.

No próximo artigo, vamos fazer outro tipo de reflexão: “o currículo desse modelo acadêmico inovador precisa ser baseado em disciplinas tradicionais como nós temos atualmente?” Essa será mais uma abordagem interessante, que eu chamo de Atomização Curricular.