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Identificando padrões e tendências no atropelamento de animais em rodovias

Quando fui informado que mais de um milhão de animais são atropelados por dia no Brasil, não acreditei. É isso mesmo. Um milhão de animais! Por dia! Confesso que, para ter certeza que era verdade, fui buscar fontes científicas que abordassem essa questão e, infelizmente, comprovei a veracidade do fato. Além da grave questão ambiental, devido à morte de espécies, muitas vezes em situação de ameaça, não podemos esquecer os riscos provocados a nós, humanos. Inúmeros atropelamentos de animais, especialmente os de grande porte, geram acidentes com vítimas fatais.

Há diversas ações que podem ser desenvolvidas para dirimir esse problema: colocação de placas de aviso, construção de passagens subterrâneas, criação de viadutos para passagem dos animais (os chamados viadutos verdes), ou a instalação de cercas de proteção, entre outras iniciativas. Essas ações possuem custos evidentemente. Imagine, por exemplo, cercar toda uma rodovia. Além disso, alguns empreendimentos podem gerar efeitos sobre algumas espécies de animais, mas não surtir efeito sobre outras. Por exemplo, viadutos verdes podem não fazer sentido quando se trata do atropelamento de aves.

Considerando essas diversas questões, imagine o potencial de utilizar a ciência de dados para responder a questões como: Quais são os locais com maior ocorrência de atropelamentos? E para determinada espécie, onde há mais incidentes? Em quais horários do dia? Em quais situações (por exemplo, ocorrência de chuva, vazamento de carga de caminhões)? Em que períodos do ano? Quais as características dos locais com maior tendência (número de pistas, pavimento, velocidade máxima, …) e em seu entorno (tipo de vegetação, existência de rios, …)?

Pensando nisso, sob a liderança da professora Cecília Bueno, grande especialista no tema, venho participando de algumas iniciativas visando à geração de informações que possam apoiar à tomada de decisão quanto a ações a serem desenvolvidas em algumas rodovias. Em um primeiro momento estamos trabalhando com o trecho Rio de Janeiro – Juiz de Fora da BR-040, uma vez que a professora Cecilia já faz um trabalho robusto de coleta de dados de atropelamento lá. A ideia é criar modelos de Aprendizagem de Máquina (Machine Learning) para identificação de tendências ligadas ao atropelamento de fauna e que possam responder às questões anteriormente apresentadas. Escolhemos, a princípio, trabalhar com a espécie capivara, devido ao seu porte e às consequências geradas pelos acidentes as envolvendo. A estratégia usada foi consolidar todos os registros de atropelamento, de todos os animais, em uma base única e, dentro dessa base, criar uma nova variável (alvo) que identificasse se o animal era ou não uma capivara. A partir daí, foram construídos alguns modelos classificatórios (Naive Bayes, Árvore de Decisão e Redes Neurais, além de alguns modelos usando Métodos de Grupo – Ensemble Methods). Os resultados em termos de precisão desses modelos foram avaliados, com a escolha do modelo mais preciso para apresentação das tendências observadas.

Entre diversas tendências ligadas aos atropelamentos, foram identificados alguns trechos específicos da rodovia, o limite máximo de velocidade, a não existência de florestas perto desses locais e a existência de água (rios ou córregos) em regiões próximas. Essas informações poderão apoiar a definição de ações a serem realizadas, no intuito de dirimir o problema no futuro.

Mais uma vez podemos constatar o potencial de uso da ciência de dados para apoiar a solução de problemas ligados ao meio ambiente.  Meu próximo artigo falará sobre cidades inteligentes, com foco na gestão de resíduos, mais especificamente os resíduos orgânicos. Até lá!!